Sunday, February 04, 2007

Fábula sobre o amor

No início, antes mesmo do verbo, quando apenas os baobás corriam pela terra e a pangéia unificava o solo continental entre as águas, o amor achou de se instalar neste mundo. Os baobás, curiosos, foram ao encontro do recém-chegado sentimento. Ele era tão grande e tão bonito que os baobás, com suas raízes, tocaram-no. Como não acarinhar o amor? Beberam tanto amor, mas tanto, que engordaram imensamente os baobás.

Pesados e fortes como nunca, nutriram-se de coragem e resolveram correr, um para cada lado, pela terra, para alertar todos os outros baobás da vinda do amor. Correram incansavelmente os baobás. Não sabiam eles, no entanto, que a distância é algo que machuca o amor. Que amor, por ser amor, vivifica-se em comunhão. Passaram então os baobás a conhecer da solidão. Mas a solidão não era bonita como o amor, embora fosse também grande. Entenderam, ainda assim, os baobás, que não deveriam se prender à solidão. Corriam todos eles com um mesmo desejo e de uma forma ou de outra, estavam sim uns com os outros, sempre. Deste entendimento, que se criou em todos os baobás, brotaram suas primeiras flores.

Nasceu também uma invisível áurea que ligava cada baobá aos demais. A áurea, uma linha fina e vermelha, era feita do amor que os baobás tinham engolido e afastava ela a solidão. Dessa linha, revelou-se a palavra. Quanto mais distante iam os baobás, mais amor era levado à áurea, mais amor saia de seus troncos, que se tornavam cada vez mais vazios. Enfraqueciam os baobás por isso. De um jeito que quando a pangéia começou a se repartir, de tanto que os pesados baobás corriam sobre o solo, eles nem conseguiram voltar a se reunir. Permaneceram vazios e distantes, ligados por uma áurea feita de amor.

Sem forças suficientes, os baobás não puderam mais correr. Enraizaram-se no solo para que não despencassem. Foi aí que o amor, preocupado com tudo o que trouxera aos baobás, decidiu lhes dar solução, evitar suas mortes. Gritou alto o amor, muito alto, e seus gritos eram de poesia. Chamava, o amor, a saudade. Esta não demorou a chegar. Assim que entrou no mundo, repartiu-se ocupando todos os vazios deixados pelo amor dentro dos baobás. Cheios de saudade, os baobás voltaram a dar flores, embora não pudessem mais correr. Foi assim que aquele baobá foi parar na frente da Faculdade de Direito do Recife. Foi assim que ele ganhou tanta cara de afeto.

3 Comments:

At 5:41 AM, Anonymous Anonymous said...

ai meu Deus que coisa mais linda Betito!!!!!bjos e mais bjos!

 
At 9:29 AM, Blogger Arnaldo Vieira said...

Muito bom... ^^
E a idéia d q vem o amor precede a criação tb é ótima..
Abraços

 
At 3:48 PM, Blogger andré barreto said...

Cara, gostei dos seus textos, muitos bons, de grande criatividade e inspiraçao.
um abraço.

 

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