Thursday, January 25, 2007

Crônica sobre a madrugada


A cidade respira enquanto o carro se desloca na madrugada. Quem guia o automóvel percebe a ocorrência dos desencontros nas esquinas. A cidade conspira enquanto o carro se desloca na madrugada. Quem percorre as calçadas passa a conhecer estranhamentos. A cidade incita enquanto o carro se desloca na madrugada. As prostituas da Av. Conselheiro Aguiar recitam Vinícius de Moraes enquanto esperam seus fregueses.

A cidade assassina enquanto o carro se desloca na madrugada. Meninos negros matam e morrem na metrópole miserável desvairada. A cidade lucra enquanto o carro se desloca na madrugada. Há quem trabalhe, há quem encha os bolsos, há quem se vicie e tudo está intimamente ligado. A cidade poetiza enquanto o carro se desloca na madrugada. Moças e rapazes sentados em bares falam do Governo, do show de Chico, da luta de classes e criticam o pós-modernismo.

A cidade fere enquanto o carro se desloca na madrugada. Há um moço em frente a um teclado dizendo coisas inevitáveis. A cidade versa enquanto o carro se desloca na madrugada. As ruas trocam seus lugares, procuram umas às outras, percorrem-se à revelia, encontram-se e desencontram-se naquelas esquinas. A cidade ama enquanto o carro se desloca na madrugada. Mas quem guia o automóvel só percebe a ocorrência de desencontros.

3 Comments:

At 8:07 AM, Anonymous Anonymous said...

a madrugada é muito propícia à percepção de desencontros mesmo...bjo

 
At 12:11 PM, Anonymous Anonymous said...

eu me descontrei na ultima madrugada.. e até agora, nada! quando será possível o reencontro?

 
At 12:11 PM, Anonymous Anonymous said...

"desencontrei"

 

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