Tuesday, January 23, 2007

Crônica sobre a padaria


O fim da tarde amarela o céu de Candeias. As crianças brincando nas ruas nem sentem a hora passar. Jajá as mainhas se debruçarão nas beiradas das varandas gritando pelos meninos. – Olha o banho, Paulinho! – Olha a janta, Carol! Os moços que ensaiam no louvor da Igreja Presbiteriana afinam os instrumentos. Daqui de cima, é possível ouvir o tinir de cada corda do violão. Do mesmo modo é possível perceber o sol baixando nas paredes dos prédios cujas frentes são ao poente. Vovó Nilza sempre dizia que não se deve morar numa casa ao poente: - As paredes ficam quentes a noite inteira. Os pardais piam antes do sereno ter início. O amarelo do céu, as cordas do violão e os pardais são uma única celebração.

Por vezes é até difícil escrever com tudo acontecendo tão calmamente. Quando a tarde se comporta deste modo – e isso acontece quase que diariamente – as superfícies se tornam de um colorido que parece querer se perenizar. É como se os meninos brincando de pega-congelou, congelados, eternizassem-se junto às nuvens róseas do oeste. Com a calmaria, tudo se estende mais no tempo. A escrita perde a razão, o porquê, vira só sentimento e sente, aparentemente estática, materialmente inexistente, sente apenas, sente e não se consuma, consome-se. Até que o fim da tarde se desenlaça e os telefones tocam, os moços na Igreja tocam, os botões do teclado tocam, as campainhas tocam e o colorido amarelado se desfaz.

Neste instante Iemanjá ergue lentamente seus olhos sobre as águas. A praia está tranqüila, é uma terça-feira de um janeiro de um ano de Xangô e mesmo Iansã está pacífica entre as nuvens róseas, no que restou do rastro do sol no horizonte terrestre. Iemanjá então alisa o véu do mar e pronuncia “noite”, Dona Fátima me lembra da padaria e as mainhas gritam pelos meninos nos parapeitos. É noite em Candeias.

1 Comments:

At 4:19 PM, Anonymous Anonymous said...

Betooooooooooooo!

deu certo!

iuhiuhhh!!


=D

 

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